“Porque o reino do poeta... bem, não me venha dizer que não é deste mundo. Este e o outro mundo, o poeta não os delimita: unifica-os. O reino do poeta é uma espécie de Reino Unido do Céu e da Terra.”

Mario Quintana

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Poema transitório


Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
para comprar
             pastéis
             pés-de-moleque
             sonhos
- principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar:
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
sempre... Nisto,
o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é
                                                                          [urgente!
... no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

(Baú de Espantos)

Um comentário:

  1. Oi, Ricardo!
    Adorei!!!
    Fico encantada toda vez que descubro uma poesia nova dele. Essa não conhecia. Justamente o "Baú de espantos" é o único livro que não tenho. Esse poema me lembrou do que escrevi para ele... Se puder, passa lá para ver. :)

    "Saudosismo" (para Mario Quintana)
    http://fasesdaluha.blogspot.com/2011/07/saudosismo.html

    bj

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